sexta-feira, 30 de julho de 2010

Só meu.

Não sou um ser no espaço, mas perdida em um tempo, meu, só meu.
Olhares ingratos entregavam a minha condição humana
Que elegia intimamente cada segredo, meu, só meu.
Recuei em um grito esbaforido, onde minha voz saiu despedaçada.
Eu não queria mais ser aquele objeto submisso,
Era hora de conviver com a incerteza do presente e reinventar um futuro, ao qual eu estivesse mais bem colocada, melhor adaptada, quem sabe.
E aquele rosto montado no espelho, refletia mais intensamente, era eu, era meu, só meu.
Eu já sabia que era inevitável, mas por um brevíssimo segundo, achei – tola – que não teria medo de me encontrar com o desconhecido.
Insana, exibicionista, agressiva até mesmo ao me expressar, demorei a entender que a cada “ser” é dada uma identidade, uma liberdade, uma satisfação e um prazer.
O prazer de viver, ser feliz era meu, só meu.
E nessa busca por um novo eu...
Encontrei-me com um alguém, que sem querer se revelou por ser, eu.
Foi tudo inútil, eu já me conhecia.
Abafei o então riso que veio involuntário, com a palma da minha mão, naquele momento eu podia ser eu, eu queria ser eu, aquele momento, era meu, só meu.
Nada poderia mudar, pois isso tudo ou nada, sou eu, é meu, Só meu.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Retalhos

Depois de tantos desvios de comportamento.
Tantos impulsos, a constante nutrição de meus caprichos e desejos.
O excêntrico mundo em que costumava viver.
Tudo isso foi relapso.
Esse costumava ser meu auto-retrato.
O meu mau humor, às vezes, não explícito,
Os tantos tombos por mim mascarados.
Meu jeito assustador e exagerado,
Todas as minhas manias, meus incontáveis defeitos
Qualquer outro teria me internado num manicômio, não você.
Foi com uma aparente calma, que me encontrei perdida na escuridão do céu sem estrelas.
Havia um bom tempo que aquele sentimento inquietante me consumia.
Era como se tudo estivesse fora de ordem, como se faltasse o aspecto fundamental de uma obra de arte.
Já não estava mais ali meu cúmplice, meu alicerce, isso me causou rompantes histéricos.
Sua falta, injustificada me causava uma dor inconsolável, como desabafos vindos do coração, como denúncias da alma.
Seu rosto vinha como retalhos, seu perfume dançava em minhas narinas que se recusavam a exalar outro odor.
Será que meu amor é superficial se comparado ao seu?
Meu pedido agora é inconveniente e não atendido.
Não me prive do que é ímpeto a mim.
Não jogue fora tudo que eternizei.
Amor, medíocre.
Amor, irredutível.
Amor, negligente.
Depois de esgotadas alternativas, talvez só um amor, confuso.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Goles de lucidez

Posso ser levemente, inserido, em seu cotidiano?
Olhei em direção a voz e lhe respondi, seja compassiva e virtuosa, só assim caberá em meu Mundo. Sorri, friamente, é claro. Não gosto de ser perturbada. Como um soldado em guerra, me revesti de armaduras, fechei o rosto, fiquei imóvel, observei cada movimento atentamente, enquanto uma sinergia era mutuamente trocada por nossas almas.Meus lábios se comprimiam,apertados,se obrigavam a calar, sem dizer qualquer mera mentira que fosse. Eu não estava disposta aquilo, aquilo que eu não sabia definir. Eu tinha medo. Medo de falhar. Medo de tentar. Medo de conhecer “aquilo”. O medo quase me sufocou. Essa nova sensação fez eu me contorcer, me esconder, me negar. Eu queria preservar a minha identidade, afinal, ela levou anos para ser descoberta, e ainda sinto que não a conheço, inteiramente. Ousada. Prepotente. Avassaladora. A voz estava cada vez mais próxima, embora eu tivesse demorado um tempo absurdo para me conscientizar de sua presença.
Não se machuque.
Não se machuque.
Repetia inúmeras vezes. Como um eco, tomava conta da minha mente.
Atormentava e aborrecia.
Era estranho, mais fazia algum sentido. Nesses momentos eu me sentia envolvida, protegida, particularmente aliviada e deslumbrada.
A voz persistia em ser lembrada, volta e meia vinha desabafar ao pé do ouvido.
Era por impulso.
Sem o qual, não viveria mais.
Uma nova sensação se encarregou de me distrair, era inconfundível a maneira com que conhecia a linguagem oculta dos meus pensamentos, com que dava um inestimável valor aos meus sentimentos, com que ouvia atenciosamente meus segredos, que derramava lágrimas e enxugava as minhas, com que dividia suas gargalhadas inocentes, a maneira ilegível com que me conhecia e se parecia comigo. Por muito tempo, pensei ser homem, mulher, a morte, até mesmo Deus. Com uns goles de lucidez, nos abraçamos. No seu abraço senti o sangue pulsar intensamente, o coração dar marteladas no céu da boca, o choro engasgar na garganta, os olhos fecharem em compaixão. Nossos braços se enlaçaram, se abrigaram, e repousaram apertados.
A voz, então sussurrou:
Não sou morte, não sou Deus, não sou homem, não sou mulher.
Sou seu amigo. Somente seu amigo.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Futuro do Pretérito

(esse texto não se trata de uma aula de português, mas uma estória de amor)

Tudo aquilo que eu vinha acreditando, seguindo se rompeu.
As tentativas falhas de uma aproximação.
A palavra juntos que eu necessitava ouvir,hesitava em sair da sua boca.
Restava a mim, meras indagações conjugadas no futuro do pretérito.
E se eu fosse embora, sentiria falta dos nossos abraços, todas aquelas hipócritas juras que depunham contra nossos sentimentos, e até mesmo nossos relativos segredos?
Lembraria de se torturar até pegar o telefone, ouvir uma voz suave, perguntando quem é, e depois desligaria com um alívio de constante inconstância?
Abriria o álbum de fotos, encheria o peito de ar com dificuldade, e relembraria dos melhores momentos?
Ficaria olhando através do vidro embaçado, incompreensíveis horas que custariam a passar, só para ter o prazer de me ver voltar?
Se condenaria a não mais respirar acaso o tempo trouxesse a primavera, o outono, as folhas viessem a cair, o inverno congelasse suas esperanças,e o verão derretesse seu coração?
Recusaria outros lábios para poder eternizar nosso último beijo?
Abriria uma ferida no peito e deixaria a cicatriz latejar, para não mais esquecer a dor?
Ou, simplesmente mendigaria cheio de humilhação para que eu não o deixasse?
Não há respostas.
Não há do que se questionar.
Não há tudo.
Não há nada.
Não havia um “juntos”.
Nem janela embaçada.
Não havia estações do ano.
Nem mesmo beijo, tão pouco eternizado.
Havia um eu.
Esperando passar incompreensíveis horas, para encontrar um você.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Olhos

Comprimentos educados foram gentilmente trocados por nossos olhares.Era a primeira vez.A última.Talvez a única.Jamais poderiam se cruzar novamente.Era o que conduzia-me a acreditar.Bobagem.Olhava penetrante.Era incansável.Hipnotizava.Dava-me medo.Entrava na imensidão dos meus olhos,buscava por minhas fraquezas,enquanto lentamente me matava,me torturava,me expunha na mesma freqüência com que me vulgarizava e se vangloriava da ocasião,isso o fazia se sentir tão homem e me fazia tão,menos mulher.Foi preciso negar,mentir,até mesmo fugir várias vezes para encontrar respostas,alternativas,embora só existissem rastros deixados pelas incertezas.Muitos foram os sussurros,tantos foram os suspiros na ausência do que dizer.Depois,silêncio.Fechei os olhos,que então,perderam-se,vagaram intuitivamente em minhas ressuscitadas memórias,trouxeram a nostalgia,e limitaram-me a lembrar apenas da pureza que um dia em meu olhar habitou.Pisquei por alguns instantes,e fechei-os novamente,para nunca mais abrir.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Cor-de-rosa

Aquela era a última vez, dizia sem cansar, apesar de estar ciente de que tudo não passava de uma estúpida mentira, ela preferia acreditar, isso a deixava mais suficientemente viva. Sempre na mesma aconchegante cadeira de balanço, isso fazia lembrar-se de seus tempos de menina, ingênua, cheia de sonhos e disposta a qualquer nova aventura, onde sentava no colo da avó, com cabelos grisalhos, a voz já rouca de tantas histórias, bebia chocolate quente e ouvia contos, contos de fadas, nos quais acreditava até ontem, nada de príncipes encantados, ou bruxas, nem mesmo fadas do bem, havia entendido que a vida reservava várias tonalidades, nem tudo era cor-de-rosa, amarga e ranzinza se via na companhia constante de um copo de vidro, algumas pedras de gelo, o velho uísque e seus fracassos. Testemunha da dor, das prosas, e dos blues, perdidos em acordes triunfantes, estava ela, calada, cada vez mais distante de se convencer do sentido da sua existência, era uma vegetante, respirava porque era involuntário, vivia porque a morte demorava, se encontrava prisioneira da própria insegurança, nada mais era real, somente seu passado. Foi então que a vida lhe proporcionou um salto gigantesco, bastou uma única olhada para a luz que vinha do céu, e como em um conto de fadas,uma magia aconteceu, passou a ver o brilho guardado na intensidade das estrelas, a sutileza que era abrigada no luar, começou a sentir algo que não ocorria desde a morte de sua avó. Ajoelhada de braços abertos com um sorriso sem pudores ela reaprendeu o verdadeiro significado da vida, a sede pela felicidade deu-lhe um propósito, e daquele dia em diante decidiu colorir tudo que o luto havia descolorido, abriu as cortinas, as janelas, deixou a brisa penetrar os raios invadirem cada canto de sua casa, se permitiu ver cavalos brancos correndo no jardim, flores campestres abrochando, maçãs doces nas árvores, pássaros cantando as mais encantadoras melodias, só então, percebeu que a vida era sim um conto de fadas, cheio de surpresas, de suspiros, de lágrimas, de emoções, e que era ela a responsável por escrever na última linha “viveram felizes para sempre”.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Lágrimas Mortas

Um quarto, um homem, mil pensamentos, poucas verdades, nenhuma esperança, diante da escuridão despedaçada, o breve silêncio foi rompido pela respiração desordenada,estava arfante, e como uma piada obscena olhou para baixo, observando as lágrimas que disparavam contra o chão e desapareciam depressa, o frio começou a lhe percorrer a espinha, o medo pois ponto final as suas lágrimas mortas.Era o início de mais uma daquelas noites de inverno solitário.O relógio mantinha constante sua pulsação,que tivera roubado da vítima,vítima da própria infelicidade.Um rosto pálido,marcado por caminhos,rugas que a vida lhe deixou como recompensa,um olhar fundo,negro e baixo vagava pelas quatro paredes,as mãos já tremulas,os pés inquietos davam ritmo a sua agonia,pegou a velha carta,amassada,borrada,muitas vezes fora beijada e marcada por suas lágrimas,então feito rocha fechou o punho e cravou no peito,a espera do momento tão esperado ,chegada a hora,ela estava com vestes vermelhas,cabelos compridos e loros, que cheiravam lavanda,olhos tão azuis quanto os mares que havia navegado,em um só abraço, roubou seu silêncio,seu presente,seu passado e até mesmo suas mentiras,como se não bastasse,roubou também sua respiração.A morte não bate na porta,não manda recado,ela simplesmente aparece,despreocupada e amável,lentamente sua alma tinha se libertado, as últimas palavras proferidas naquele quarto foram :
EU TE AMEI.